A escola do café na vida!

Como não aprender com as aulas do pós colheita, com as aulas do clima, com as aulas interruptas dos fertilizantes, da logística, dos armazéns, das tributações e com o recheio da política cafeeira? Nessas aulas ainda tem uma que poucos faltam, que é a aula do mercado financeiro. Todas as matérias de notícias estão encadernadas nessas aulas que os professores são quase os mesmos e que muda só a matéria.

 

A aula do clima, nem todos sabem e não estão prontos para as provas e muito menos as provas de negociações futuras. Provas que mesmo com as contribuições estudando dia a dia, ninguém sabe e nem se poderá utilizar o gabarito para passar a limpo.

 

É tão certo que a educação mudou muito e até nas informações que recebemos diariamente para chegar no final do ano e sim ter o certificado nas mãos e dizer que o reconhecimento e esforço foi merecido.

 

Nessa vida nós do campo encontramos desafios, mas sempre esperando que possamos colher e vender por um preço justo o nosso café da mesa de bilhões de consumidores a cada dia. Porém, é bom lembrar que as fases cíclicas são muito bem lembradas nos tempos passados.

 

 Por exemplo! Eu quando passei por entender de café, colhíamos na década de 1984 a 1992, poucas sacas de café. E transportávamos para o terreiro os grãos em casca ou chamado em coco com um carrinho de mão. Depois de todo sacrifício de trazer por carrinho ou carriola, passava pela estrada e vendo pastagem para todo lado e mesmo assim meu pai dizia: “Café era muito sonho de muitos”. Porém, pegava tudo junto e poderia fazer algum investimento”. Ele sempre dizia que “não era vantajoso ficar aplicando ‘veneno’ nos cafezais porque poderia matar os marimbondos que faziam a limpeza natural dos predadores”. João Barbosa, conhecido como João Pacheco.  Minha mãe Marina Saborito sempre adorava colher café e tínhamos uma tulha onde após secagem no terreiro de terra depositava o produto para descanso.

 

  Na época não tinha medidor de umidade. Se fazia a medição olhando o grão de café no rumo da luz do sol e se tinha água no maior volume, deixava para descansar ou cortando com canivete em uma mesa. Esse processo fazia se tivesse duro e repartisse as favas para os lados. Assim poderia estar pronto para recolhimento.

 

 Era metodologia que aplicava na época que se chamava bebeu ou não bebeu e não tinha informações sobre as classificações aplicáveis via cob ou scaa. Porém, mesmo sem o conhecimento, alguns ainda faziam o chamado hoje de “processo fermentação” controlada que na época colocava em saca e fechava a boca da sacaria para não sair o ar e ainda dava cafés bons. Porém, a maioria levava o café para o terreiro e não queria que molhasse para não estragar a bebida.

 

O interessante disso tudo que vejo que não tinha máquinas de beneficiar café na época e sempre meus pais pegavam amostra de café e levavam nos compradores corretores de café na época. Uns falavam que na avaliação o café bebeu bem, porém o mercado estava muito baixo e só poderia pagar pelo produto “xy”. E não “xx” porque o mercado está muito baixo. Porém, o comprador já comentava que iria buscar o café para beneficiar porque se o mercado subisse, tinha que entregar para não perder dinheiro. Sempre era feito de maneira de 3 volumes para um. Sendo que não gastava a quantidade com que se falava para dar uma saca beneficiada o chamado renda.

 

Assim foi por anos e anos até que vi meu pai dizer que se tivesse o café nas mãos poderia ter comprado fazenda em 1985 porque tinha uma dívida de dinheiro emprestado e para honrar teve que entregar o café a preços baixos e se tivesse a informação nas mãos não tinha entregue por tão pouco. 

 

Depois de anos vendo isso, eu não concordava com a situação e sempre meu pai recebia visita todos os dias dos vizinhos e até mesmo de meu tio que todo santo dia vinha em minha casa. A conversa sempre era a mesma dos preços do café.

 

Até algumas vezes ouvia na rádio A Voz do Brasil falar que os preços eram remuneradores e no canal Globo Rural que passa no domingo para saber dos reais preços. Assim foi por muitos e muitos anos e fui estudar datilografia e computação em Nova Resende, uma cidade vizinha. Ia sempre a pé por 4 km até pegar um ônibus para ir fazer as aulas e sempre com o dinheiro contado, porque se gastasse mais do valor não tinha como voltar para onde morava.

 

Nessas andanças conheci pessoas diferentes e atitudes que trouxe para meu bairro onde moro chamado Arrudas, que fica no município de São Pedro da União/MG. Conheci pessoas que beneficiavam café e vendia 4 até 5 vezes a mais do que que meu pai vendia em coco.  Chegava e falava para ele e fomos até uma beneficiadora de café que nos atendeu muito bem. Porém, ele perguntou quanto é o volume que vocês tem na sua propriedade. Meu pai respondeu que colheu no ano anterior 40 volumes e no ano que estávamos uma quantidade. Porém, na hora o rapaz do caminhão disse que não tinha como ir limpar só o café do meu pai porque era pouco. Então, teria que chamar os vizinhos para juntar mais volume para ser compensativo. Assim chegando logo no dia seguinte fizemos e chamamos os vizinhos e parentes para fazer um roteiro e programamos para beneficiar o café.

 

Então ali o fizemos e vendeu por um preço mais justo na época e todos ficaram felizes porque tinha a palha de café, ou melhor, o adubo rico em potássio, fósforo e iria voltar para lavoura de café.

 

Então, nesse meio de tempo muitas coisas aconteceram e o mundo evolui a cada 30 segundos com tecnologia, com estratégia de negócios, com a comunicação nem se fala. E nessa semana a informação veio no segundo certo e vendi meu café através de um aplicativo aproveitando o momento certo. Vejo que a escola da vida fez eu aprender muitas lições. Também sempre recordo o carrinho de mão que trazia o café lá da roça. Aprendizado nunca e demais e dar valor nas pequenas coisas para mim é um legado.

 

Fernando Barbosa

Cafeicultor em São Pedro da União/MG

Expressiva liderança da cafeicultura nacional.