“…sabe aquela garrafa de vinho, guardada para uma ocasião especial?
Abra e saboreie com que é especial, hoje, para você!”
Povo Santo de Deus, estamos na última semana de janeiro. Ainda vivemos os percalços do COVID19… vai onda, volta onda e nesta saraiva estamos aprendendo a navegar tais como teimosos náufragos. Diante deste cenário muitas são as previsões, meditações, planos, planejamentos, análises, lives, projeções, formações, desinformações… diante de tanta ação, quero partilhar uma experiência pessoal: no último fim de semana, nas assembleias católicas, se leu em todo o mundo a mesma leitura do Primeiro Testamento – Neemias 8, 2-4a.5-6.8-10. Este texto, o qual indico para todos (inclusive indico a leitura de todo o livro) fala-nos de uma realidade muito atual. O contexto desta leitura inicia-se no ano de 587/6 a.C, quando o rei babilônio Nabucodonosor invadiu o que restava de Judá, destruiu o Grande Templo (vd;qmih; tyB Beit HaMikdash) em Jerusalém, sequestrou os líderes e levou-os cativos para a Babilônia. Foram anos de escravidão, até que em 538, Ciro, o Persa, permitiu o retorno do povo para a Terra de Israel. O processo de reconstrução da cidade demandou muito esforço físico, psicológico e espiritual. Depois de muito esforço, as muralhas e o Templo foram reconstruídos e então aconteceram várias celebrações solenes, a fim de repovoar a cidade Santa de Jerusalém. A cena pintada no texto acima mencionado é uma verdadeira Liturgia da Palavra: o povo está reunido, o Sacerdote Esdras toma o que tem de mais Sagrado, isto é, o Livro da Palavra de Deus, a proclama solenemente e a explica. A assembleia compreende e compromete-se (chora) com aquilo que foi ouvido. Diante do choro do povo, diz Neemias: “Ide para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor. Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força” (Ne 8,10)
Que grande ordem! O govenador em meio a um grande labor de reconstrução, faz o povo “esperançar” e se alegrar, pois que em Deus confia, e na sua misericórdia espera, tem um motivo a mais para crer: a alegria do Senhor, isto é, a força, a glória, a promessa de Deus;
Obviamente, nem Neemias, nem a Bíblia incentivam o vício ou a gula, pois o problema não está nas coisas, mas no excesso, nos extremos, na incontinência, no exagero. Na verdade fica clara a ordem: em meio a tanta dor e desafios, saboreiem a vida!
Trocando em miúdos: sabe aquela garrafa de vinho, guardada para uma ocasião especial? Abra e saboreie com que é especial, hoje, para você! Sabe aquela louça guardada no armário para uma refeição importante? Use, hoje, com quem é importante para você! Sabe aquela roupa, aquele perfume, aquela joia, reservados para dias solenes? Use! Não espere que o próximo motivo para reunir a família seja um velório.
Sem excessos, pois o excesso mata! Também a rotina é um excesso! Há uma frase do diário de Anne Frank que ilustra bem este artigo: “Os mortos recebem mais flores do que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão”. Não deixe guardada a possibilidade da fantástica experiência de viver…
Na mesma liturgia dominical, em todo orbe católico se ouviu a narrativa do Evangelho segundo Lucas, capítulo 4, o qual narrava a ida de Jesus à sinagoga de Nazaré. Após o seu discurso, surge uma semente de esperança no coração dos que o escutavam, porém, tal como na parábola das sementes (Lc 8,5-15), feito um astuto pássaro surge o inimigo que rouba a semente lançada naquele terreno: “não é ele o filho de José?” perguntam-se! A limitação dos ouvintes, limita o alcance da mensagem!
Nosso Deus é um Deus meio descompassado! Enquanto esperamos fatos, dias, eventos e solenidades extraordinárias, ele se revela no ordinário da vida e no cotidiano da carne. É urgente perceber o Senhor que se faz presente de diversas formas e modos no ordinário de cada instante, desde o canto melódico do sabiá até às maravilhas miraculosas. A não ser na segunda vinda gloriosa do Senhor, e até lá, ele não descerá em um raio de luz, pois já veio na fragilidade da carne. O homem deve perceber o seu Senhor até mesmo quando tudo vai contrário aos seus planos.
Por isso, repito (e o faço porque primeiro fiz esta experiência), abra aquela garrafa de vinho! Use aquela louça! Cozinhe aquela receita especial! Diga a quem você ama, que o ama! A vida é suficientemente breve… não compensa perdem tempo em não viver!
Finalizo com uma sugestão musical, uma música chamada “Voz e luz” de Jorge Trevisol que repetem em seu refrão “Viva a vida! Salve o amor! Como é tão linda a alegria, de quem te segue, Senhor”! Espero assim, te ajudar a entender a maravilha do Reino anunciado pelo meu Divino Amigo, Jesus de Nazaré!
Padre Dione Piza
Pároco na Paróquia São Sebastião
Juruaia/MG
Fotos:
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