Advento, tempo de arrancar as ervas daninhas da alma! 

Há de uma cena campestrina que exemplifica um mistério da fé católica. Houve uma época em que o Natal era uma data marcante não por causa da barganha de presentes, mas por uma realidade grandiosa: Deus se fez criança (“Et Verbum caro facto est” – E o Verbo se fez carne) e veio habitar com seu povo. Esta verdade de fé era (e ainda deve ser) percebida sensivelmente como esperança: o povo celebrava Deus, não apenas com ceias e almoços, mas em adorações e “sentimento bons”. A singeleza do presépio pedia uma preparação ao devoto. Antes da meia-noite o ranchinho do presépio permanecia velado por um pano branco, e então, à hora marcada, todos podiam venerar a sacra representação: no centro o Divino menino, reclinado na palha, rodeado por sua Mãe, São José, pastores e animais pelos Três Reis Santos! Contudo, para que o Menino Deus abençoasse lares e lavouras a preparação tinha que ter começado bem antes! Assim que caiam as primeiras chuvas as lavouras eram plantadas: o cinza das pastagens e o marrom do chão seco se revestiam de verde. Da terra árida brotava a vida. No chão de cultura bailava pequenas plantas: milho, arroz, feijão, abóbora, amendoim, mandioca… enfileiradas em “ruas” pareciam pentear as baixadas e os montes. Tudo parecia estar em harmonia. Parecia! Entre uma planta e outra crescia também a praga: plantas daninhas, que sem serem semeadas, ameaçava o roçado! Se não fossem retiradas a tempo poderiam sufocar a lavoura e a perda seria grande. Então homens e mulheres deviam deixar a roça no limpo, e antes da festa do Natal. Afinal, como o Menino Deus podia abençoar a roça no mato?  

 

O relato acima é uma boa forma de entender o Advento. A palavra Advento significa “há de vir”, e é empregada para designar o tempo de preparação para a vinda do Senhor: “há de vir” pode ser entendido como “está chegando”. Este tempo de espera exige daquele que está na expectativa uma preparação.  Esta espera não é passiva nem apenas gastronômica, mas ativa e espiritual: é tempo de tirar o roçado, que é nossa vida, do mato. Tempo de arrancar a erva do pecado, matar o espinheiro do desanimo, acabar com a praga dos vícios, e limpar o canteiro de nossa alma. Precisamos deixar nossa vida limpa para que Deus possa frutificar em benção do natal. De fato, se o católico não quiser arrancar o mal de sua vida, Deus Menino pouco pode fazer!  

 

Para auxiliar seus filhos nesta limpeza, a Igreja instituiu o tempo do Advento. No ano 380, no Sínodo de Saragossa, prescreveu 3 semana de preparação, em Roma o costume aparece descrito no missal Galesiano, no séc. V, prescrevendo 4 domingos. O rito grego não celebra o advento, mas sim 40 dias de jejum. Com o tempo do Advento a Igreja inaugura um novo ano litúrgico, sendo que o próximo ano, 2017, será o ano A.  

 

Neste período de quatro semanas, a cada domingo se insistirá no processo de preparação através de um tema e uma figura bíblica: no primeiro domingo o tema é a vigilância e a figura será do profeta Isaias; no segundo o tema é a conversão e a figura é de João Batista; no terceiro o tema é a alegria e a figura também será João Batista, e no quarto domingo o tema é a esperança e a figura é Maria.  

 

Nas celebrações litúrgicas, durante este tempo, não se cantará o Hino de Louvor (IGMR 53), o altar deverá ser ornamentado com moderação de modo a não antecipar a plena alegria do Natal (IGMR 305), e o mesmo se diga com relação à musica litúrgica (IGMR 313) e usa-se a cor roxa (IGMR 346 d). Merece destaque as seguintes celebrações: a) Festa da Imaculada Conceição (08/12), b) Nossa Senhora de Guadalupe (12/12): é a padroeira da América Latina. Embora não seja uma devoção muito popular, é bom lembrar que se trata de nossa padroeira também. c) Novena do Santo Natal (16 a 24/12). Normalmente é para o começo da novena que se monta o Presépio. Um símbolo próprio deste tempo é coroa do advento. A coroa surgiu na Alemanha, no século XIX. No inverno rigoroso deste país, todas as árvores perdem suas folhas, somente os pinheiros resistem, sendo, dessa forma, um sinal de que a natureza não morreu totalmente. A cada domingo, acende-se uma das 4 velas da coroa. De uma a uma, a luz vai aumentando, até chegar na grande festa da Luz que proclama Jesus Cristo como Salvador. 

 

Enfim, eis que se aproxima um tempo rico de oração e chamado à conversão. É tempo de cuidar da espiritualidade, combater o demônio do consumismo sem sentido e recordar que neste tempo o católico não deve ser escravo da propaganda e da falsa magia do natal! Não há magia do natal! O que existe é a realidade salvifica trazida por Cristo em seu nascimento. Que neste tempo que se aproxima, cada fiel batizado volte ser coração para o único presente que não conhece fim: Jesus Cristo! Vinde Senhor Jesus (maranatá)!  

 

Padre Dione Piza

Pároco da Paróquia São Sebastião de Juruaia/MG

 

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