Falar da Comunidade dos Gomes ou do Bairro dos Gomes ou, simplesmente, dOs Gomes é uma tarefa fácil, mas, ao mesmo tempo, difícil. Fácil por se tratar de um local de uma acolhida calorosa e agradável e difícil por ser um povoado extremamente rico sob o ponto de vista cultural e linguístico e é daí que surge sua enorme importância e recai sobre a nossa fala uma responsabilidade ainda maior.
Os Gomes são bastante conhecidos da população de Juruaia, mas também de outras populações e de outros lugares. Porém, já nesse início, citamos os estigmas que foram construídos no decorrer de décadas e que enraizaram formas de preconceito contra as pessoas que ali nascem e vivem. Preconceitos de ordem linguística, principalmente, mas que se fortalecem a partir de outros fatores, por exemplo o fato de se tratar de uma comunidade rural. É bem verdade que este querido povo sobre o qual falamos aqui possui marcas muito próprias em sua fala, formas de organização social e familiar muito peculiares e uma devoção religiosa invejável. Tudo isso faz parte de um processo de construção cultural, processo este que não se dá do dia para a noite. Pelo contrário, são tradições e marcas de cultura que foram construídas durante décadas – e por que não dizer durante séculos? Aqui, ressaltamos que este é um processo de formação e composição de identidade inacabado, ou seja, continua sendo construído e ressignificado pelas gerações mais jovens.
As chamadas marcas identitárias ou marcas de identidade são os componentes culturais de todos os grupos humanos pelo mundo. O que nos faz brasileiros e não espanhóis, por exemplo, nossa língua, nossa culinária, nossos hábitos, nossas formas de organização social, nossas artes dentre tantos outros elementos e componentes da cultura de um povo. Assim, ser dos Gomes é também carregar essas ricas marcas identitárias e as respeitadas tradições e história de gerações anteriores.
Incrível é pensar na riqueza deste lugar. Riqueza que está para além do que se pode valorar em termos econômicos. Riqueza esta que se materializa em um falar muito próprio, recheado de expressões idiomáticas as quais são pronunciadas num gostoso sotaque ritmado pela fala e que traz cargas de expressão em cada palavra dita. Também na hospitalidade típica e peculiar de um povo acolhedor e cheio de boas histórias para contar.
A Comunidade dos Gomes, bairro rural situado na zona rural da cidade de Juruaia, MG, há quase uma década passou a ser alvo do nosso olhar científico pelos vieses das ciências linguística e sociolinguística. Em nossos estudos, desenvolvemos o conceito de comunidades típicas o qual é aplicado aos Gomes e que caracteriza-se como sendo populações humanas rurais cujas marcas identitárias de linguagem, história, cultura ou atividade econômica as diferenciam das comunidades urbanas brasileiras.
Assim sendo, tenho dedicado minha carreira acadêmica a este tão incrível lugar que me permitiu viver experiências riquíssimas e produzir conhecimentos para a comunidade científica deste país. Ao longo desses anos, meu orientador Prof. Dr. Celso Ferrarezi Junior e eu produzimos importantes trabalhos que trouxeram Os Gomes para o centro dos estudos e análises e que buscaram contribuir para a manutenção e permanência de todas marcas de identidades sobre as quais já falamos. Durante a graduação em Letras importantes textos e artigos foram produzidos, mas um deles merece destaque por estar publicado numa importante revista científica: a Revista Trem de Letras da UNIFAL/MG, o referido artigo pode ser acessado por meio do link https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/tremdeletras/article/view/1566/1182; já a nível de pós-graduação – mestrado, produzimos mais teorias e conhecimentos registrados na dissertação final disponível em: https://bdtd.unifal-mg.edu.br:8443/handle/tede/1867.
Por Jair Silva Sobrinho
Professor Mestre em Educação
Muzambinho/MG