É provável que 10 em cada 10 agricultores da nossa região já tenham ouvido falar da importância de se analisar o solo que cultiva. Atualmente grande parte deles realiza análises de solo periodicamente, sendo o ideal anualmente.
Mas por que analisar o solo?
Os altos custos dos insumos atualmente, destacadamente os fertilizantes, não permitem o amadorismo de achar que tal adubo ou fórmula em determinada quantidade é bom para minha lavoura. Isso por si só já seria justificativa para nunca iniciarmos um programa nutricional de uma lavoura “às cegas”. E a questão ambiental? Excessos de nutrientes mal aplicados em determinado local podem comprometer a viabilidade de uso do solo, contaminar águas subterrâneas e ou superficiais, sendo muito visível o efeito do carreamento de fertilizantes superficialmente pela erosão, por menor que seja, pela eutrofização dos corpos d’água, ou seja, água muito “adubada” proporcionará explosão no desenvolvimento de algas, principalmente, causando aspecto de esverdeamento, que ao completarem seu ciclo de vida, entram em decomposição diminuindo o oxigênio ali disponível, tornando aquele meio inviável à vida da maioria dos seres aquáticos e imprópria ao consumo de animais terrestre, inclusive os humanos. Devemos considerar que a falta ou o excesso de nutrientes pode ser causa do insucesso produtivo e ou econômico de uma plantação, pois como em quase tudo em nossa vida, o mérito está no equilíbrio e não nos extremos.
Dito isso fica claro que se valer de uma ferramenta tão simples e eficaz como é a amostragem e análise do solo onde se trabalha é indispensável nestes tempos em que vivenciamos uma agropecuária de altas produtividades, eficiência e dinamismo, onde os erros devem ser minimizados e os acertos serem objeto de busca constante.
A análise de solo tem baixo custo e permite ao agricultor junto com a assistência técnica da sua confiança traçar um planejamento com menor índice de erros, pois como estamos tratando de ua empresa exposta aos fenômenos da natureza, não existe técnica 100 % efetiva, pois são muitas variáveis durante um ciclo produtivo, onde podemos afirmar com alto nível de certeza que raramente 2 + 2 = 4. Neste contexto, a amostragem do solo, com suas calibrações testadas pelas inúmeras pesquisas realizadas pelo meio científico, oferece parâmetros para que possamos diminuir a margem de erro, aumentando a eficiência produtiva, econômica e por consequência mitigando nossa pegada ambiental negativa.
Para que o conjunto das ações que envolvem a nutrição das plantas alcancem êxito, é necessário começar por um bom planejamento da amostragem. Devemos considerar alguns pontos:
– Minha lavoura é uniforme em termos de tipo de solo, declividade, espécie ou idade cultivada?
– Necessito conhecer o perfil do solo?
– Necessito conhecer a textura do meu solo?
– Sei o histórico da área?
– Sei o tamanho (área) da minha lavoura?
Tais perguntas nortearão quantas, que tipo de amostras, profundidade de coleta, interpretação dos resultados, quantidade de insumos a adquirir entre tantas outras decisões e informações que envolvem a nutrição racional de plantas.
Podemos ilustrar as situações acima com exemplos práticos:
Se minha área cultivada com café tem uma parte plana e outra declivosa, uma lavoura com 2 anos, outra com 5 anos e outra com 20 anos de cultivo, uma parte com terra argilosa e outra com areia ou cascalho, são indicativos de que deverei amostrar essas situações em amostras separadas, ou seja, a parte íngreme da baixada, respeitar as diferenças de idade entre os talhões, etc.
Para conhecer o perfil do solo, ou seja como este se comporta nas diversas faixas de profundidades, devemos retirar amostras em diversas profundidades, sendo mais comum de 0 a 20 e 20 a 40 cm, podendo chegar a 60 e até mesmo 80 cm, conforme o caso. Já a textura, ou seja, saber a proporção de argila, areia e silte presente no solo é verificada pela análise física. Esses resultados possibilitarão à assistência técnica avaliar se há a necessidade de aplicar calcário, gesso ou qual fonte de determinado nutriente poderá ter melhor resposta e assim por diante.
Saber o histórico da área é importantíssimo, como por exemplo culturas implantadas ali anteriormente, tipo de preparo de solo, produtividades passadas e expectativa futura, entre tantas outras informações que subsidiarão a interpretação dos resultados. Tão importante quanto o histórico é saber a área, quantidade de plantas, espaçamentos, etc. Vejamos o exemplo a seguir: Ao técnico que interpretará determinada amostra foi informado que a área contém 5.000 covas de cafeeiros em 1,5 hectare, mas na verdade a lavoura tem 6.200 plantas em 2,2 ha. Se o relatório da assistência técnica disser que deverá aplicar 2 toneladas de calcário na lavoura, esperando aplicar 1,3 ton/ha, na verdade estará aplicando 0,9 ton/ha, bem abaixo do esperado. Se recomendou aplicar 15 sacas de determinado adubo, 150 gramas por cova, estará na verdade aplicando 125. Essas diferenças ao longo de um processo produtivo em vários talhões podem gerar diferenças comprometedoras na produção e resposta econômica da lavoura.
É necessário avaliar também o local para coleta das amostras (linha, entrelinha, …), ferramentas disponíveis, época mais apropriada a cada cultura levando-se em conta o término das adubações, ciclo da cultura, promoções nos laboratórios, convênios como o mantido pelo Departamento Municipal de Agricultura de Muzambinho para subsidiar parte do valor das amostras, planejamento da compra e transporte dos insumos entre várias outras variáveis que fazem parte do dia a dia de uma propriedade agrícola.
Não temos a intenção de esgotar o assunto nessa rápida conversa, mas sim gerar inquietação para auxiliar na tomada de decisão que amparada pela assistência técnica, deve ser sempre do agricultor. A equipe da Emater se dispõe para apoiar e esclarecer dúvidas sobre esse assunto tão importante à produção agropecuária, pois é a base de todo o planejamento da produção. Um erro aí poderá comprometer todas as etapas futuras da nutrição das lavouras.
Nossos desejos de sucesso e fartas colheitas.
Muzambinho, 27/04/2022.
Clóvis de PIza
Técnico em Agropecuária
Tecnólogo em cafeicultura
Especialização em cafeicultura
Extensionista Emater-MG desde 1997
Programa Certifica Minas Café.
Foto: Arquivo Pessoal