Estamos em outubro, precisamente nas festividades de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e padroeira do Brasil.
A história de Aparecida, todos já conhecem de cor e salteada! É a história que começa em 1717, quando os pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, foram encarregados de conseguir peixe para o banquete que recepcionaria, na Vila de Guaratinguetá, o então Governador da Província de São Paulo e das Gerais: Dom Pedro de Almeida e Portugal (mais conhecido como Conde de Assumar). Negar peixe a tão ilustre autoridade seria o mesmo que se rebelar contra as decisões do Império, sendo o castigo muito pesado para os desertores.
Após horas de pesca no Rio Paraíba do Sul, João Alves lança sua rede e retira das águas barrentas o corpo de uma imagem de nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal, porém sem a cabeça. Em um ponto diferente, lançando novamente a rede, João Alves encontra a cabeça perdida da imagem. Viram ali um sinal de fé e proximidade do Coração Paterno de Deus! Depois de colocar a imagem dentro do barco, os pescadores, que antes não tinham conseguido pescar nada, encheram as suas redes com uma quantidade abundante de peixes. A imagenzinha foi conduzida a casa de João Alves, sendo as partes coladas com cera de abelha por Silvana da Rocha. Nasceu ali, naquele canto esquecido do vale do Paraíba, a devoção à Virgem Mãe de Deus, que tomaria conta do coração de todos os devotos do Brasil.
Diante dos sinais que Deus operava através da fé daquele povo, que rezava diante da imagem de Maria Santíssima, o fluxo de pessoas aumentavam dia após dia, levando o vigário de Guaratinguetá, padre José Alves Vilela da Silva, construir no alto do morro dos Coqueiros uma capela. Ao entorno daquela modesta capela, nasceria o coração católico do Brasil, a cidade de Aparecida.
Contudo caro leitor, peço sua paciência, para que me acompanhe em três milagres não narrados na história oficial, mas que creio eu, são os maiores que aprendemos com a mensagem de Aparecida:
O primeiro deles chama-se “persistência”: os simples pescadores não encontrando peixes naquele Rio, poderiam ter desanimado. Mas não desanimaram! Creio que aqui reside o primeiro milagre de Nossa Senhora da Conceição Aparecida: o verdadeiro devoto não desanima, mas persiste, insiste, resiste. Em uma sociedade, que tenta pintar uma realidade doce e sem sofrimento, os temas da persistência, da resistência, da resiliência, deve emergir do olhar de que contempla a Virgem Mãe Aparecida. Já pensou se um deles tivesse desanimado? O desânimo não combina com o romeiro, o caminheiro, o apaixonado por Nossa Senhora! Mesmo entre lágrimas, e tantas vezes sem entender os “porquês”, insiste em lançar a rede uma vez mais, assim como nos ensinou Jesus há 2000 anos, nas águas plácidas do mar da Galileia: diante do cansaço de Pedro e seus companheiros, o senhor os desafia com as palavras “avancem para águas mais profundas e lançai em suas redes” (Lc 5,4). No sítio arqueológico de Magdala, em Israel, há uma igreja com essa inscrição em letras garrafais na entrada do prédio “Duc in Altum”, ou seja, “ide para o alto (mar)”, para as águas profundas, não desanime! Poderíamos pensar: saia da zona de conforto, e ouse acreditar!
O segundo milagre de Aparecida se chama “levantar-se”: segundo o jornalista Rodrigo Álvares, em seu livro “Aparecida”, da editora Globo Livros, a imagem de Nossa Senhora Aparecida mede cerca de 36 cm, é feita de terracota, com bochechas gordinhas, lábios carnudos, olhos em forma de amêndoas, cabelos lisos e ornada com 4 flores (duas acima das orelhas e 2 sobre os ombros) e um diadema na cabeça. Possivelmente foi esculpida por volta de 1650, por frei Agostinho de Jesus, e pesa cerca de 2,5 kg. Fisicamente um objeto deste peso jamais flutuaria! O seu destino seria o fundo do rio, mas algo extraordinário aconteceu, ela flutuou! Somente assim poderia ser pescada pelas redes! O que isso nos diz: a Palavra de Deus nos lembra, na narrativa da anunciação, uma exortação muito bela do anjo Gabriel: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,36). Esta é a verdadeira mensagem de Aparecida: “para Deus nada é impossível”! Inclusive, ele pode retirar-nos do fundo de nossos poços existenciais, limpar-nos de nossas lamas espirituais ou psicológicas, e resgatar-nos à flor da água, para que fieis, possamos viver a vida em plenitude! Aparecida é um dos sinais sagrados que Deus, delicadamente, deixa cair pelo mundo: vendo a imagem ornada com o manto e a coroa doados pela Princesa Isabel, em um dourado trono feito por seus devotos, recordo-me que aquela imagem esteve na lama, quebrada, abandonada, esquecida, condenada, e hoje reina sobre o nosso Brasil! É a clara plastificação da Palavra II Coríntios 4,17 “os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles”!
O terceiro milagre é “intercessão”: no dia 16/05/1972, uma terça-feira, às quatro da tarde, Aparecida escureceu e um pé de vento levantou poeira cobrindo a cidade de pó. Às 20h10, um jovem protestante de nome Rogério Marcos, aproveitou de uma falha elétrica para saltar onde estava guardada a imagem Aparecida, na carinhosamente chamada Igreja Velha, e com o murro quebrar o vidro de proteção, tomar a imagem, e jogá-lo no chão. A imagem, uma vez quebrada em duas, agora ficou reduzida a mais de 200 fragmentos. Porém, como atesta a artista plástica do MASP, Marilene Chartuni “as mãozinhas da imagem juntas em oração, estavam intactas, e foram encaixadas facilmente”! Sim meu povo, cumpre-se mais uma vez as palavras bíblicas na Terra de Santa Cruz: em longe distante quatorze de Nisan dos anos 30 ou 33, sobre o Monte chamado Calvário, pendia da Cruz o Filho de Deus Vivo, mas antes de comunicar o seu Espírito, vendo discípulo fiel e amado, que ali representava a Igreja nascente, disse a ele “eis aí a tua Mãe” (Jo 19,25)! Desde então, a Igreja tem uma Mãe, que mesmo ao quebrada pelo ódio humano, abandonada, esquecida e incompreendida, não separa suas mãos em oração! Ela intercede por nós, mesmo quando só temos o pecado, o ódio, e a ingratidão! Aquelas mãozinhas postas em oração, recordam as mesmas palavras ditas em Guadalupe no ano 1531: “Por que tens medo? Acaso não estou eu aqui que sou sua mãe?
Findando este texto, recorro ao evangelho próprio da Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, encontrado em João 2, 1-11 12: diante da instabilidade, a Mãe é a primeira a perceber que falta algo, e intercede ao seu Filho. Em um momento enigmático, uma vez recebendo a missão e o poder de ser a Eva-fiel (Mulher), ordena àqueles que comporiam a Igreja do Senhor: “fazer tudo que Ele vos disser” (Jo 2,5). Eis o testamento espiritual de Nossa Senhora: fazer tudo o que Jesus disser!
Padre Dione Piza
Pároco da Paróquia São Sebastião de Juruaia/MG
Foto:
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