Ipê e suas cores da esperança!

Enfim, setembro! Embora a natureza não siga o calendário gregoriano, há algo de gregoriano na natureza: nestes meses de agosto e setembro, desponta entre tantas a árvore do Ipê, vazia de folhas, cheia de suas flores! No meio da vegetação fustigada e acinzentada, ei-la se exibindo como um sinal de Esperança: amarelo, roxo, branco, rico, impactante, suave. Seja em grandes galhos, ou pequenas flores, sempre majestosa.

Há uma narrativa bíblica, que de Ipê não tem nada, mas na sua época, impactou igualmente:

Conta-nos o livro de Ezequiel uma visão particular: No capítulo 37, o profeta está em meio a um vale de ossos ressequidos, isto é, sem vida há muito tempo. Deus lhe pergunta se estes poderão reviver, e de fato, mediante sua palavra, após rumores e estrondos, os ossos se reorganizaram e põe-se de pé um novo exército.

A profecia de Ezequiel me inspira nestes tempos: diante do cenário tão crítico, com nossas lavouras sofridas pela geada e estiagem, o Ipê é uma indicativa solene de que para Deus nada é impossível! Mesmo quando nossa esperança se torna limitada, somos convidados ao mesmo processo abraâmico recordado na carta aos Romanos: “Esperar contra toda humana Esperança” (Rom 4,18).

Sim, embora se conceitue que o verde é cor da Esperança, na verdade a Esperança não tem cor! Pode ser o amarelo do ipê, o cristalino da lágrima, ou o incolor do sorriso. A Esperança é um dom que brota no coração daquele que crê em Deus.

Dentre as muitíssimas lendas sobre o Ipê, tomo uma que, embora de origem indígena, é de particular similaridade bíblica: conta-se que na tribo dos Carajás, próximo ao Rio Amazonas, um casal apaixonado de índios fez as promessas de amor eterno sob a árvore de pau d’arco. Após o casamento selado à sombra da mesma árvore, descobrem que a noiva era estéril. A tristeza visitou o coração do casal, e diante da infertilidade, o jovem índio foi pressionado pelo conselho dos anciãos a desposar outra mulher para dar a comunidade guerreiros. A jovem esposa, por sua vez, se refugiou sob a mesma árvore, e decidiu dar cabo a sua vida jogando-se no Rio. Suas lágrimas correram até a terra, e da árvore brotou um espírito de mulher, vestida de lindas flores multicolores. Diante do espanto, teria aquele espírito contado que era uma jovem do seu povo, que fora há muito amaldiçoada por uma mulher má. Tal castigo somente seria quebrado por uma esposa estéril que trouxesse flores de acordo com as que ela vestia. Uma vez liberta, realizaria o desejo de quem a libertou. Assim, nas próximas luas cheias, o casal apaixonado depositou nos pés aquela árvore pequenos buquês de flores amarelas, roxas, lilás, e brancas, e para cada buquê ali depositado, nos galhos novos buquês brotavam. Ao término a jovem foi libertada, e o casal teve os seus filhos gêmeos chamados Iaacan e Floripes, que quer dizer “flor de ipê”.

Decerto é lenda! Mas na bíblia, há uma histórias similares: assim aconteceu com Sara e Abraão, Rebeca e Isaac, Raquel e Jacó, a mãe de Sansão, a mãe de Samuel, e talvez a mais conhecida Isabel, mãe de João Batista. Particularmente, na história de Isabel, disse o Anjo Gabriel ao contar a boa Nova virgem Maria: “para Deus nada é impossível” (Lc 1, 37).

Acreditemos, é o galho retorcido pela seca e geada, despido de cor e beleza, que ressalta a nobreza do Ipê! Nossos desafios não são pontos finais, mas princípios de novas realidades!

 

Padre Dione Piza

Pároco da Paróquia São Sebastião de Juruaia/MG